O desfazer de uma ilusão é sempre uma coisa triste e dolorosa, até porque essa ilusão fomos nós que a criámos. Raramente sozinhos, certo, mas ainda assim somos nós que a formulamos, que lhe damos forma, côr e alma. Por isso mesmo dói muito. Pior ainda mina-nos a auto-estima de uma maneira terrível.
A capacidade que nós temos de construir ilusões sustentáveis é precisamente o que faz com que a nossa confiânça e a nossa auto-estima sejam mais ou menos altas. Quando começamos a ter dúvidas sobre essa nossa capacidade começamos a ter medo de as fazer, medo de nos iludirmos medo de tomar riscos, medo de tudo e de nada. Ora a ilusão é uma grande parte do que nos move, para mim pessoalmente a maior mesmo!
Num percurso normal de vida vamos desenvolvendo essa capacidade à medida que os anos passam. Evitam-se erros passados, reavalia-se a situação, reformula-se e reage-se de acordo, numa espiral evolutiva que é ao fim e ao cabo o ciclo normal do crescimento. Mas quando a meio da vida essa espiral se inverte, quando passamos a ter menos capacidade para nos iludirmos de uma forma sustentável do que anteriormente, então aí a coisa está preta! Primeiro porque contraria o ciclo normal do crescimento, e só por isso é assustador, mas ainda pior é porque vamos perdendo capacidade, força, descernimento, coragem, etc. para reverter o processo e ir à luta de novo. Um murro dói muito mais agora do que quando tinhamos 15 ou 18 anos; a unica vantagem, teórica, é que devíamos conseguir antecipar o murro e desviar-nos. Mas com a espiral invertida deixamos de ter essa capacidade .. e pimba! Levamos o murro em cheio! Dói que se farta, acreditem!
Fui, a maior parte da minha vida, afortunado por ter desenvolvido, precocemente, essa capacidade de uma forma sustentada e eficaz, de tal modo que sempre tive índices de auto-confianca muito acima da média. Uma característica inequívoca desta espiral é que ela se desenvolve de um modo exponêncial tanto no bom e normal sentido como, infelizmente, no sentido inverso. À medida que os poucos riscos que corres te correm bem (desculpem-me o pleonasmo) vais ganhando confiança e vais correndo mais riscos, com confiança, serenidade e uma lucidez fantastica; sentes-te o melhor condutor do mundo!! Verdadeiramente enebriante!!
Mas o contrário pode ser iguamente arrebatador ... é onde me encontro neste momento da minha vida. Deixei que a espiral se fosse invertento pouco a pouco e quando dei por ela estava a acelerar a toda a força no sentido inverso. Comecei pelo trajecto profissional, acomulando erros e desilusões e agora, coisa que eu nunca pensei vir a viver, até as pessoas já me enganam. Deixei de ter a capacidade de criar as ilusões certas com as pessoas certas, deixei de conseguir lêr as pessoas de adaptar a ilusão certa, ou a falta dela e, consequentemente, desiludi-me!!
E depois dizem vocês!! E novidades !!
Pois o problema é nunca vivi esta situação a não ser eventuamente quando era mesmo muito novo e, como tal, não sei o que fazer. É como ter nascido podre de rico e vivido toda a vida sem saber o que é não ter dinheiro e de repente cair na pobreza total ...
Enfim uma coisa eu sei: não adianta envredar pela Rua da Pena, até porque, como podem verificar, nem a placa está direita!